Escola Sem Partido: provocações

escola_0*Discurso proferido na abertura da mesa temática
sobre Escola Sem Partido
na Semana da Pedagogia da Faculdade Sumaré,
no dia 10 de Outubro de 2016.

 

Boa noite! Agradeço a presença dos convidados, alunos e professores.

É uma honra poder abrir um debate tão importante e gostaria de fazê-lo com algumas perguntas, dúvidas e provocações.

Vivemos num momento tão importante de consolidação de um projeto educacional para o Brasil. Se há tempos o nosso debate pairava sobre o acesso e permanência na escola, hoje nos preocupamos com o conteúdo e a qualidade do ensino, presentes nos debates curriculares e didáticos.

Todo este debate, entretanto, só pode ser realizado a partir de uma pergunta sobre os fundamentos da escolaridade. Que escola queremos? E quais são os limites e as possibilidades da escolaridade? Um erro comum é apressar-se em responder, evitando a reflexão que as perguntas propiciam. Reflexão esta que precisa ser realizada internamente por cada sujeito e, posteriormente, compartilhada no espaço público para que se construa coletivamente um projeto de longo prazo para a educação formal brasileira.

Há diversos debates em curso: base nacional comum curricular, alfabetização, ciclos, pré-alfabetização, disciplinas optativas no ensino médio, educação inclusiva realmente inclusiva e a escola sem partido. Gostaria de falar sobre este último.

Estamos acostumados com o debate que fica no nível do juízo estético. Não está em jogo se gostamos ou não do projeto de lei Escola Sem Partido. O debate não é sobre o que gostamos, o debate é sobre qual é a conjuntura educacional, política e econômica que culminou na elaboração da proposta legal, que também precisa ser discutida enquanto solução ou opção para o estado da arte da educação brasileira.

A conjuntura educacional, do meu ponto de vista, não é a mesma nem dos defensores do projeto de lei e nem de seus críticos. A crise na educação foi anunciada e denunciada pelos críticos de uma pedagogia da “autonomia” do aluno, como Alain, Hannah Arendt e, mais recentemente, Inger Enkvist. Tivemos por décadas um ensino com a preocupação infantil de ser sempre lúdico e optativo, inclusive com políticas que tiveram como resultado um não apreço pelo conhecimento, pelos saberes e pelo pensamento. O aluno, condenado a ser escravo de sua própria realidade, não ampliou sua visão de mundo. Brincou com aquilo que já fazia parte de sua vida. Assim, preso em sua condição, não poderia ir mais longe do que o local para o qual o seu mestre lhe enviou. A pedagogia, dita defensora da autonomia, construiu uma educação tão servil quanto aquela que visava combater.

Como resultado, o ensino é fragmentado, superficial e, numa análise para quem vê de fora, torna-se ainda pior através daquilo que é veiculado pela mídia ou pelas redes sociais. Violência, descaso, hedonismo estão sempre presentes e não podem ser ignorados, sendo enviados para a caixa das exceções.

Com o aluno no centro, o ensino tem se tornado a literatura e ortografias do funk, as operações matemáticas do baile funk, a história do funk, a geografia do funk, a cultura do funk, os exercícios físicos do funk etc. Certamente não era isto que os pensadores tinham em mente quando diziam sobre o sujeito tomar consciência de sua condição história, social e econômica.

A total ausência de sentido e o não cumprimento de seu papel, fez surgir como opção pedagógica um retorno a um conservadorismo de senso comum, muito presente no imaginário do povo brasileiro.

Isto por si só não explica o surgimento do projeto de lei Escola Sem Partido. Há uma questão política que eu não irei chamar de nova direita, pois discordo da dualidade esquerda-direita, mas chamarei de conservadorismo resoluto. Este conservadorismo extrovertido tem crescido no Brasil, especialmente devido ao fracasso econômico do governo do Partido dos Trabalhadores. A militância anti-PT fomentou uma aversão a tudo o que se relaciona com a esquerda. Como dissemos, no Brasil tudo se torna uma questão de gosto. Assim, um dos locais para combater aquilo que não se gosta é a escola.

O Escola Sem Partido deixa de atuar como ONG e se torna uma entidade política. Na esteira do combate à esquerda, visa defender que professores deixem de usar de sua autoridade na sala de aula para impor suas visões de mundo e de prejudicar os alunos que pensam diferente deles. Quem seria contra isto? Quem vai sair em defesa de professores que dizem qual religião está certa ou errada? Quem vai defender que o professor diga em quem o aluno deve votar? Quem vai defender que o professor prejudique o aluno que criticou o autor, as ideias ou o material didático?

Ora, se a escola é um espaço de consciência crítica, não seria boa uma lei que colocasse nas salas de aula um cartaz dizendo que o professor não pode ser este tipo de professor?

Em primeiro lugar, uma lei não resolve o problema. Ainda são os professores que possuem a caneta e o poder de dar a nota. Alunos se sentem ameaçados. É impossível o professor responder perguntas sem se comprometer (como bem escreveu Olivier Reboul).

Em segundo lugar, uma placa nas escolas não duraria tanto tempo. Numa palavra: vandalismo.

Em terceiro lugar, aprovar uma lei como esta é afirmar que o Estado deve ter o poder para controlar toda a educação (mesmo motivo pelo qual sou contra a Base Nacional Curricular Comum).

Se a pluralidade deve ser defendida, ela não pode ser obrigatória. Por que não podemos ter escolas com propostas pedagógicas diferentes? Isto já não existe? Há escolas confessionais e escolas seculares. Por que não existir uma escola Marxista e uma escola Hayekiana? Por que livros didáticos precisam apresentar todas as inúmeras visões do mundo? Basta os descontentes publicarem um novo livro didático que tenha as características desejadas! A diversidade não precisa ser imposta, basta um ambiente de liberdade para que ela floresça.

Se há uma problema de ética profissional, e eu penso que há um problema, então é preciso pensar a formação dos professores. Se há um problema de autores preteridos, e eu penso que há um problema pois poucos aqui devem ter ouvido falar em Hayek, por exemplo, então é preciso repensar o currículo e a formação dos professores. Se há um problema de professores ensinando o que os pais não querem que os filhos aprendam, então é preciso que os pais percebam que podem ser mais atuantes na escola. Não é isto o que se chama de escola democrática?

Se queremos e precisamos repensar a educação brasileira, nunca é tarde para perguntar: vamos dar poder para o Estado controlar todos os aspectos da educação e correr o risco de amanhã alguém usar este poder para impor sua visão de mundo? Aqueles que defendem o Escola Sem Partido devem ser os primeiros a responder a esta questão.

Propostas Municipais

Apresentação

O Partido Social Liberal – PSL foi fundado em 1994 e conseguiu seu registro para participar de eleições em 1998. Isto significa que o PSL possui 18 anos de participação na política. O PSL não foi fundado recentemente, muito menos surgiu na onda de novos partidos políticos.

O PSL está em transformação. Isto significa que desde 2015 a diretoria nacional quer dar uma nova cara ao partido, tornando-o um partido mais ideológico. Esta mudança ideológica busca um retorno às bases sobre as quais o partido foi fundado, o social-liberalismo.

Ser social-liberal é ter compromisso com a liberdade, sobretudo com a liberdade de quem mais precisa. É acreditar que devemos empoderar o brasileiro e mudar o centro do poder, tirando as decisões de Brasília e levando para dentro da nossa casa. É ter como prioridade cortar as mordomias e privilégios de políticos e apadrinhados, e lutar diariamente pelo respeito aos direitos fundamentais de quem está distante do poder.

Esta renovação tem sido encabeçada pelo LIVRES, uma ala nova dentro do partido que está brigando para que o partido dê uma guinada ao liberalismo social. Significa abraçar as causas da liberdade econômica e social. Tudo para que os menos favorecidos da sociedade vivam num ambiente no qual possam se desenvolver, crescer e viver com dignidade e respeito, com uma economia estável e uma sociedade pacífica.

Fazer política num país como o Brasil é difícil. Ainda mais quando um partido quer ser um partido ideológico (algo que não funciona no Brasil se o desejo é se eleger). Fazer política e defender a liberdade na realidade política é mostrar para o eleitor os benefícios da liberdade para suas vidas.

A nossa candidatura é uma oportunidade para mostrar para a cidade de São Paulo que é possível fazer política sem se valer dos rótulos antigos e sem entrar na briga direita-esquerda.

 

Repensar São Paulo

O Filipe Celeti é o candidato do LIVRES para a cidade de São Paulo. Filósofo de formação e professor por vocação, Filipe Celeti tem pesquisado o tema da política ao longo de sua carreira acadêmica.

Na faculdade, concluiu o curso de Filosofia com um trabalho sobre a possibilidade do diálogo e da construção de consensos políticos, a partir do pensamento de John Rawls. No mestrado em Educação, traçou a construção histórica da educação obrigatória mostrando como as intervenções do Estado na educação não atingem o resultado esperado. Neste mesmo trabalho abordou dois temas que estão em discussão: os vales-educação e o ensino doméstico. Hoje, no doutorado, pesquisa políticas públicas de inclusão.

Um dos ensinamentos que o pensamento político de nosso tempo tem mostrado é que não é possível saber o que todos os cidadãos desejam. Se não podemos ter o conhecimento total, não podemos ser arrogantes e tentar controlar as pessoas. Uma sociedade livre é uma sociedade onde todos podem agir, acertar ou errar. O papel dos políticos deve ser o de preservar as regras do jogo.

Portanto, precisamos repensar a cidade de São Paulo. Devemos e podemos construir uma cidade que não sufoque seus cidadãos e que permita que cada um se realize plenamente ao respeitar a realização plena dos outros cidadãos.

Vamos Repensar São Paulo?

Baixe as Propostas Municipais para a Cidade de São Paulo.

Sobre PSL, LIVRES, liberalismo e ciência política

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Muitos acontecimentos passam por nós sem darmos a devida importância a eles. À medida em que alguns deles se tornam fatos e temos de compreendê-los ou buscarmos encaixá-los em nossa visão de mundo, surgem muitos problemas por desconsiderarmos acontecimentos que escaparam de nossa percepção. Se acrescentarmos os níveis de ódio, repulsa e extremismo que marcam o nosso tempo, teremos como resultado uma menor compreensão e uma maior rotulação.

Desde a Grécia Antiga vivemos o debate acerta do rótulo. De um lado havia Parmênides (“O Ser é e não pode não ser. O Não-Ser não é e não pode ser de modo algum.”) com o seu Ser imóvel e imutável. Do outro lado havia Heráclito (“Não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes.”) com o constante devir. Parmênides pensava que as coisas são o que são. Heráclito, por sua vez, pensava que todas as coisas estavam em constante transformação. Assim, aquilo que hoje é pode não o ser amanhã. O debate Parmênides-Heráclito foi superado por Platão e a sua teoria das formas. Para ele, as ideias são imutáveis e a coisas estão em constante movimento.

O que o debate sobre o Ser tem a ver com rótulos? Ora, os rótulos são utilizados para fixar ideias às coisas. Ao rotular alguém de algo, rejeitamos a constatação de que as pessoas mudam, de que a natureza muda, de que a matéria está em constante movimento. Quando assumimos rótulos que foram dados por outros, podemos (e geralmente estamos a) julgar o outro e avaliar o outro sem o ver totalmente. Não temos acesso ao outro, vemos apenas o rótulo que antecede o ser.

É normal que no dia a dia utilizemos essas informações para tomadas de decisões conscientes ou inconscientes. Temos de ter rapidez para viver e partimos da ideia de que os rótulos foram colocados pelos outros para, muitas vezes, ajudar as pessoas a tomarem decisões, evitando que cometam má decisões.

O problema que quero tratar é quando o rótulo está fazendo com que as pessoas tomem decisões ruins. Neste momento, a necessidade de explicar as coisas, de desrotular, de despir é urgente. Este momento é o hoje e eu gostaria de discutir honestamente o conteúdo com vocês. Falo do PSL – Partido Social Liberal.

 

O PSL

Uma pesquisa rápida na Wikipedia mostra alguns acontecimentos que escaparam da análise de muitas pessoas. O PSL foi fundado em 1994 e conseguiu seu registro para participar de eleições em 1998. Isto significa que o PSL possui 18 anos de participação na política. O PSL não foi fundado recentemente, muito menos surgiu na onda do renascimento liberal brasileiro pós 2004.

Quando criticam o partido o colocam em comparação com o NOVO, um partido recém criado. Os problemas enfrentados por estes dois partidos são distintos. O primeiro precisa mostrar que está se reformulando internamente, o segundo precisa mostrar a que veio. Ambos terão as eleições municipais deste ano para que o eleitorado tome suas decisões. Isto não significa uma disputa ou guerra entre ambos, que fique claro.

Ainda sobre o PSL. Nestes 18 anos de atuação o partido conta com cerca de 200 mil filiados. São 200 mil pessoas que se filiaram, se elegeram e buscam se eleger. Pessoas de todas as índoles e com divergências políticas profundas. Isto ocorre com todos os partidos. Até o direitista tucano mais extremo está dentro de um partido no qual existe uma ala chamada Esquerda Pra Valer (EPV).

 

LIVRES

O PSL está em transformação. Isto significa que desde 2015 a diretoria nacional quer dar uma nova cara ao partido, tornando-o um partido mais ideológico e menos personalista. Esta mudança ideológica busca um retorno às bases sobre as quais o partido foi fundado, o social-liberalismo.

Esta renovação tem sido encabeçada pelo LIVRES, uma ala nova dentro do partido que está brigando para que o partido dê uma guinada ao liberalismo social. Significa abraçar as causas da liberdade econômica e social, isto é: simplificar a burocracia estatal; acabar com o favorecimento a grandes corporações, indústrias que promovem os vencedores escolhidos por canetada; defender liberdades civis como liberação da maconha e porte de armas; enxugar a administração pública etc. Tudo para que os menos favorecidos da sociedade possam viver num ambiente no qual possam se desenvolver, crescer e viver com dignidade, com uma economia estável e sem dificuldades inventadas pelos burocratas para venderem facilidades.

Toda esta reformulação é um processo. Partidos políticos possuem estatuto e ninguém chega dentro de um expulsando pessoas ou ditando regras aos outros. Mudanças internas em partidos demoram tempo e houve muito pouco tempo de 2015 para 2016. Significa que ainda há 200 mil filiados, num país extenso, num país no qual a política é vista com ódio. Ódio este multiplicado ainda mais diante das constantes crises econômicas e políticas.

 

Ciência Política

Fazer política num país como o Brasil é difícil. Ainda mais quando um partido quer ser um partido ideológico (algo que não funciona no Brasil se o desejo é se eleger). Fazer política e defender a liberdade na realidade política é mostrar para o eleitor médio os benefícios da liberdade para suas vidas.

Fazer política não é agradar a todos. Fazer política não é fazer teoria política e nem debater filosofia política. Fazer política é traduzir questões complexas e técnicas para que todas as pessoas possam compreender o que você propõe e serem convencidas de que aquilo que foi proposto pode ser realizado e vá de encontro com as necessidades e anseios delas próprias.

Portanto, compreender quem é o PSL, o que o LIVRES está fazendo, quais são seus limites e quais são as suas possibilidades é imprescindível para que o debate político não fique limitado aos rótulos que os odiadores insistem em colocar. O mundo não é aquilo que amo ou odeio. O mundo é uma possibilidade e há muita gente querendo se aventurar na construção de um mundo melhor. Faça parte da mudança ou embarque no trem do ódio e assista a tudo sentado na janela dos escarnecedores.

Quinze de Março Libertário

nao somos escravos

O povo está farto de seus governantes. O povo está farto de ser enganado. O povo está cansado de ser empobrecido. O povo dá um basta ao desvio de verbas e uso da máquina estatal para o benefício de particulares e corporações. Até mesmo quem apoia o grupo que está no poder desaprova o modo como governa e suas atuais políticas.

Há uma revolta generalizada que irá desaguar nas ruas de todo o território brasileiro no dia 15 de março de 2015. Sob diversas bandeiras, o povo gritará contra a atual presidente, contra seu partido, contra a corrupção e a favor de muitas coisas como o impeachment, intervenção militar, investigação da Operação Lava Jato, BNDES, a condenação dos envolvidos e várias outras.

O Partido Libertários apoia a manifestação. Entende que é legítimo reivindicar nas ruas as suas ideias e posições e que a mobilização pode propagar ideias e mobilizar e envolver outros indivíduos nas causas defendidas. O que o LIBER não defende são as bandeiras abstratas ou absurdas que estão sendo levantadas.
Alguns libertários estão envolvidos, pessoalmente, de algum modo com movimentos que estão participando ativamente dos protestos. O LIBER, por outro lado, quer deixar claro o que defende. Se há interesse em participar e muitos de nós irão para as ruas, que nossas bandeiras sejam claras.

Secessão
A solução óbvia para muitas das reivindicações populares é a separação das entidades federativas. Separação não é levantar muros e expulsar pessoas nascidas em outros locais. Separação é não ter de sustentar Brasília. É retirar do bolso dos mais pobres, das regiões mais remotas, a conta do luxo e do gasto dos políticos e dos funcionários públicos com seus privilégios. Para acabar com a falcatrua no Palácio do Planalto e no Congresso Nacional, basta não enviar dinheiro para lá. O LIBER entende que o dinheiro deve ficar com quem o produziu e isto nos leva à nossa segunda bandeira.

Imposto = Roubo
Todo imposto, tributação e taxa são um assalto e extorsão. O povo brasileiro é ameaçado a pagar a conta e vê a sua qualidade de vida despencar ao ter todos os produtos consumidos taxados à 40% em média. Alimentos, remédios, vestuário e tudo o mais são muito caros por conta dos impostos embutidos. O consumidor final, isto é, o cidadão, sempre paga a conta para sustentar parasitas do dinheiro roubado.

Impeachment de Todos
Não adianta trocar de líder. O povo parece ter acordado para isto, mas muitos ainda não entenderam a questão. Dilma, Temer, Aécio e qualquer outro político têm o mesmo incentivo: se aproveitar da máquina em benefício próprio, colocar os amigos no poder e favorecer aliados. A única forma de enfraquecer os políticos e retirando poder de suas mãos. É preciso diminuir o poder de legislar sobre os outros (secessão), diminuir a arrecadação (cortar impostos) e diminuir o papel do governo na sociedade, passando o comando de empresas e serviços para os funcionários, cooperativas, empresas ou indivíduos que administrem de modo a fornecer o produto/serviço de forma eficiente, ou seja, com poucos custos e a um preço competitivo.

Não deixe que movimentos pautem as manifestações pedindo mais estado, como a intervenção militar por exemplo, ou a troca de líderes (eleitores do Aécio). A nossa luta é pela liberdade. A nossa luta é pela autonomia e autodeterminação individual. Muitos manifestantes desconhecem nossas reivindicações. Eis um bom momento para mostrar o que defendemos.

Filipe Rangel Celeti,
coordenador estadual do LIBER-SP e membro do Comitê Executivo do LIBER

Rafael Lemos,
presidente do LIBER

O fim do libertarianismo ou hangout sobre o mene da dissertação do mito da violação do PNA

There-is-no-freedom-we-are-all-slaves O crescimento do libertarianismo no Brasil cria muitos eufóricos. Impulsionados pela divisa “Está acontecendo”, muitos sorrisos são distribuídos e muitas almas se acalantam com supostos avanços em direção à liberdade. Diante de tantos avanços, pessimistas e realistas parecem não compreender o novo movimento libertário brasileiro. Há motivos para diminuir tamanho otimismo, pois parece que tal crescimento se assemelha a um tumor maligno, difícil de ser retirado por completo e com potencial de se espalhar. É verdade que o libertarianismo tem crescido muito. Hoje se fala sobre isto em diversos círculos. Entretanto, a estupidez, a ignorância, a desinformação, a preguiça e a desonestidade tem crescido em progressão geométrica.

É preciso pontuar muitas coisas, sem que o texto seja longo, para que as mentes mais fracas possam ler mais do que um título. Sem titubear, o problema do libertarianismo é que as pessoas não sabem ao certo o que é libertarianismo. Libertarianismo é uma doutrina política fundamentada na defesa da ampliação das liberdades individuais e econômicas. Dentro desta doutrina há divergências. São libertários: o liberalismo neoclássico de Friedrich Hayek e Milton Friedman, o anarcocapitalismo de Murray Rothbard e David Friedman, o objetivismo de Ayn Rand, o geolibertarianismo (georgismo) de Fred Foldvary, o libertarianismo de esquerda de Hillel Steiner e Peter Vallentyne, o agorismo de Samuel Konkin III, o minarquismo de Robert Nozick, o neo-mutualismo de Kevin Carson, além de diversas outras posições de anarquistas e libertários clássicos e contemporâneos. É preciso notar que há um corpo grande de teóricos e uma divergência de ideias.

Sem saber o que seja o libertarianismo as pessoas se jogam num universo de debate, raso, turvo e desnecessário. Partem de uma ideia de sujeito e indivíduo livre, mas terminam engolidas pelo zeitgeist. Reproduzem os modos de ser impostos pela cultura e pela condição humana de nosso tempo. Não escapam dos determinantes culturais e sociais que os tornam filhos de seu tempo. Assim como toda uma geração, sucumbem diante de uma condição de: egocentrismo, relativismo e imediatismo.

Egocêntricos, os jovens ditos libertários, estão fechados numa narrativa de si mesmos. Seus desejos estão acima da realidade e, sendo incapazes de entender a realidade, seus pensamentos, ideias e debates são recheados de “eu entendo desta forma, não preciso provar e não me interesso em compreender o seu modo de pensar”. O culto ao “eu” é tão exacerbado e incentivado que cria deformações ególatras de “eu defendo o meusobrenomismo” ou “eu sou meusobrenomeano”. Além disto, o número crescente de hangouts apenas demonstra o quanto estão fechados num mundo fantasioso do “eu”. A superficialidade e a excentricidade são atributos de um infeliz espetáculo. A profundidade inexistente é acompanhada de fieis seguidores e multidões que adoram preencher seu tempo de existência com “- oi, tá me ouvindo? – ficou bom agora? – tá com chiado. – você não tem fone de ouvido? – minha conexão está ruim…”. Não há maior perda de tempo do que ouvir adolescentes imberbes ou tiozinhos gagos e sem didática durante horas. Ainda no universo do egocentrismo, o ápice do culto ególatra se dá com as escolhas de seus mitos. De um lado, uma multidão juvenil ansiosa por líderes elege seus seres mitológicos baseados em realização inexistente. De outro lado, seres minimamente alfabetizados escrevem “mitei” quando conseguem elaborar uma sentença minimamente criativa ou vexatória.

Relativistas, essa nova geração de aprendizes de libertários, não entendem que o subjetivismo e o individualismo metodológicos não são de forma alguma uma defesa de uma não existência de verdades objetivas e/ou absolutas. Muitos menos toda interpretação é verdadeira. A metodologia parte apenas de compreender o homem em sua dimensão individual, que possui valores e concepção de bens subjetivos e, portanto, não pode ser do plano do político o controle e a determinação de quais devem ser os valores e concepções dos indivíduos. Há uma moralidade, amoral é claro, na doutrina POLÍTICA do libertarianismo. Debates morais não são o cerne da questão, especialmente no pensamento rothbardiano. É óbvio que debates morais são importantes e os mais colorosos, mas realmente não faz sentido debatê-los num ambiente no qual pensa-se que a política não deva interferir nas concepções individuais. Se tais concepções trazem prejuízos à vida ou propriedade de terceiros o problema é a ação e não a ideia que a gerou.

Imediatistas, os filhos do pós-modernismo, anseiam encerrar todo o conhecimento adquirido pela humanidade, durante milênios, em meia dúzia de frases em redes sociais. Em primeiro lugar, aquele que fica pedindo para os outros dissertarem é um idiota. Em segundo lugar, as pessoas não dissertam, elas emitem opiniões pessoais. Em terceiro lugar, nenhuma contribuição é feita para o crescimento individual dos participantes de tais empreitadas. Esses mesmos imediatistas, reduzem tudo à uma poça de lama chamada PNA (princípio de não agressão). Assusta ver o tipo de debate ao redor de um princípio que, antes de mais nada, é pouco compreendido. Se entendessem tal princípio não ficariam discutindo na dimensão em que discutem. Até mesmo os que criticam o PNA como único raciocínio válido para argumentar uma ética libertária precisam de mais do que dois artigos de internet para embasarem suas críticas.

Por falar em artigos de internet, tais imediatistas acreditam que um texto num blog ou site é capaz de dar conta de todo um assunto. Artigos são fragmentos de um todo. São apontamentos que permitem que eventos ou perguntas possam, isoladamente, ser compreendidos e debatidos. O real entendimento de algo demanda tempo, ou seja, tempo de leitura, tempo de releitura, tempo de leituras adicionais e todos estes tempos mediados por tempos de meditação e reflexão.

Estas três características moldam a compreensão geral de quem seja o libertário: um nerd, virgem, adolescente, mimado, sociopata que se acha o máximo sendo um caricato personagem de internet. Nenhuma mudança política e cultural pode ser realizada por um grupo de pessoas com este perfil. Ainda bem que defendem que crimes de injúria e difamação não existem, assim podemos xingá-los e humilhá-los pois é isto que merecem os estúrdios.

Há muito ainda o que apontar como: a falta de espírito empreendedor dos que defendem o empreendedorismo; a falta de espírito capitalista (tudo tem um preço e a concorrência é boa) dos que reclamam do preço dos livros e dos seminários e o excesso de institutos; e a nova geração de direita que é ignorante e incapaz de debater num nível mais elevado. Não há o que comemorar.

Portanto, caro individualista, melhore a si mesmo pois isto é o mínimo que você poderia fazer em favor da causa que diz defender. Você é livre pra não fazer nada disto, mas acostume-se a ser um escravo, ou melhor, escravo palhaço.

Por que relacionamentos são complicados?

Todo bate-papo de solteiros uma hora entrará no polêmico assuntos dos relacionamentos. No último mês houve mais lenha ao tema com os artigos sobre “mulheres independentes” e “mulheres chatas”. O grande erro do debate – e não dos artigos – foi focar numa antiga e desnecessária guerra dos sexos.

Além deste foco numa suposta guerra dos sexos, o assunto sobre relacionamentos sempre recai sobre a qualidade das pessoas e sobre como o nosso momento histórico é marcado por relacionamentos frágeis e descartáveis.

Gostaria de falar sobre mais alguns pontos, que considero importantes ao debate.

1. Guerra dos sexos

Em primeiro lugar, relacionamento não é guerra. Por que relacionamentos são complicados? Porque você tem encarado seus relacionamentos como disputas. Relacionamento não é um jogo no qual há vencedor e perdedor (pelo menos não deveria ser). O exemplo mais comum disto é comparar o relacionamento com esportes. Um casal não está numa partida de tênis. O casal está num jogo de frescobol. Ninguém vence com o erro do outro, mas o erro do outro é contrabalançeado com o esforço em manter a bola em jogo, apesar de um passe fraco ou forte demais.

Homens e mulheres são diferentes. Se você gosta do outro, precisa entender um pouco de uma natureza que não é a sua. Precisa entender também que dizer frases como “todo homem é isto ou aquilo” e “toda mulher deseja isto ou aquilo” são de um coletivismo imbecil. Há, obviamente, muito em comum entre todos os homens, mas cada um deles é um ser dotado de história e estrutura psicológica individual. Ao final, a única guerra que existirá será entre você e seus preconceitos.

2. Técnicas de conquista

Relacionamentos são complicados porque você tem caído em técnicas de conquista. Peço desculpas ao galanteadores de plantão, mas vou dizer algumas verdades.

Para as Mulheres:

Homens costumam utilizar uma técnica para atrair a sua atenção. Eles te fazem um elogio seguido de uma reprovação. Elogiam o seu cabelo e falam mal da sua roupa. Elogiam a sua aparência e criticam a sua bebida. (Os exemplos são infinitos). Ao fazerem isto, os homens despertam em você uma raiva. “Como assim ele me elogia e me critica ao mesmo tempo?”. “Quem ele acha que é pra falar isso pra mim?”. Se você fizer uma dessas perguntas irá automaticamente atrás deste homem, pois quer limpar a sua imagem. Que melhor forma de limpar a imagem do que se mostrar uma pessoa cheia de qualidades e fazê-lo se interessar por você? A mulher pensa que conquistou, mas foi exatamente o oposto que ocorreu.

“Mas e o cara que eu conheci acidentalmente numa fila ou no mercado que não me criticou?”. Preste atenção em como conheceu o homem. Psicologicamente estamos mais propensos a fazer um favor a alguém por quem já fizemos um favor. Neste sentido, os homens adoram pedir dicas sobre o que comprar. Ao ajudar o homem com a sua “pergunta” você se torna mais fácil a cair na lábia dele. É o velho truque de pedir o isqueiro emprestado. Funciona. Portanto, o carinha conhecido acidentalmente pode não ser o homem que apareceu na sua vida, mas apenas alguém pouco comprometido com relacionamentos sérios.

Para os Homens:

Não é muito difícil conquistar um homem quando o desejo é apenas para uma noite. Se for este o interesse, a mulher irá usar obviamente o fator roupa. Se o seu interesse for em algo a mais, preste atenção se você não está caindo no truque do visual.

A mulher que estava te olhando e desviou o olhar quando você a olhou não necessariamente é tímida. Ela faz isto exatamente com o intuito de que você vá até ela e ache que foi você que a conquistou.

Além disto, as mulheres usam o poder único de conquistar com o toque. Um beijo e um abraço mais prolongado, um toque sutil no braço, o beliscão etc. Sem que você perceba estará atraído.

Muitas vezes relacionamentos se iniciam por causa da investida de uma dessas técnicas da arte de sedução. Não vai demorar muito para que alguém perceba que a atração não vem de dentro. O final da história a maioria conhece.

3. Amor

Relacionamentos são complicados pois se entende muito pouco o que seja o amor.

Amar traz a idéia de relação. É uma relação entre o sujeito que ama e o objeto amado. Assim, o amor é o que mantém esta relação existente entre um sujeito e um objeto. Tal relação, entretanto, não significa que o amor é uma mera relação vetorial unidimensional de alguém para algo. Amor não é um sentimento ou uma abstração. Amor é o esforço deliberado para atingir a finalidade de manter o vínculo entre sujeito-objeto. Constitui-se num conjunto de ações racionais que permitem que o desejo pelo objeto possa manter-se enquanto desejo, apesar das circunstâncias.

As pessoas dizem muito facilmente o “eu te amo”, mas esquecem que amar é o engajar-se totalmente para manter o vínculo. É por este motivo que relacionamentos começam e terminam tão rapidamente. Deseja-se o outro. Possui-se o outro. Mas não há esforço em manter o desejo. Um desejo consumado torna-se rapidamente um desejo por outro objeto.

As pessoas querem se relacionar, mas não querem a responsabilidade de amar realmente. Se iludem com um amor de mentira e passam a imaginar que não há mais amor.

Portanto, saiba o que é amar, não caia na conversa alheia e fuja dos relacionamentos conflituosos. Entenda que o amor começa com o amor próprio, mas precisa de uma boa pitada de amor ao outro. E o mais importante: não peça suco natural e nem use crocs.

Kevin Carson não representa o libertarianismo

Há um ímpeto comum entre os seres humanos. Atinge do inculto ao culto, do esquerdista ao direitista, do ateu ao fundamentalista religioso e dos mancebos aos anciãos. Este ímpeto é o de concluir que uma característica das partes deva se aplicar ao todo. Na vontade de refutar, surgida da indignacão com um texto de Kevin Carson e com um radicalismo ideológico de internet, Luciano Ayan cedeu e abraçou o erro categorial de composicão. Ayan desejou mostrar como o libertarianismo de Kevin Carson é utopista ao dizer que sem estados não haveria guerras.

Primeiramente, Ayan acerta ao colocar Carson como um libertário de esquerda. Entretanto, é preciso lembrar que “o libertarianismo de esquerda não é uma posição política homogênea. Antes, designa diferentes abordagens de questões políticas e sociais num contexto teórico nos quais diferentes teorias relacionam-se. Deste modo, falar em libertários de esquerda pode-se referir aos seguintes grupos teóricos: (1) esquerda libertária, (2) georgismo (geoísmo), (3) escola Steiner–Vallentyne, (4) agorismo, (5) left-libertarianism (libertarianismo de esquerda de livre mercado).”1

Antes, porém, que atribuam ao libertarianismo as características de uma parte, repito que a teoria libertária é um todo complexo que inclui: “o liberalismo neoclássico de Friedrich Hayek e Milton Friedman, o anarcocapitalismo de Murray Rothbard e David Friedman (são anarcocapitalismo diferentes), o objetivismo de Ayn Rand, o geolibertarianismo (georgismo) de Fred Foldvary, o libertarianismo de esquerda de Hillel Steiner e Peter Vallentyne, o agorismo de Samuel Konkin III, o minarquismo de Robert Nozick, o neo-mutualismo de Kevin Carson, além de diversas outras posições à esquerda de anarquistas e libertários clássicos e contemporâneos e à direita como a ética argumentativa de Hans-Hermann Hoppe.”2

Dito isto, podemos começar a falar sobre a posição de Kevin Carson a respeito dos conflitos entre Israel e Hamas. Em Gaza: O feitiço de Israel se vira contra o feiticeiro, Carson busca analisar o atual conflito resgatando a sua origem. A partir de duas obras sobre a história do conflito, o autor chega a uma conclusão parecida com muitas análises feitas anos atrás acerca do conflito Estados Unidos – Osama Bin Laden. Foram os EUA que financiaram Bin Laden contra um inimigo maior, a URSS. Portanto, os ataques de 11 de setembro, foi o feitiço (o treinamento e financiamento de Osama) contra o feiticeiro. Do mesmo modo, Israel apoiou o Hamas contra outros grupos islâmicos. O apoio e financiamento do passado se voltam a Israel hoje. É óbvio que o Hamas tem culpa ao bombardear Israel, não vou negar isto e nem dizer que uma ética se baseia em consequências indesejadas. O ponto que merece atenção é que este tipo de apoio externo, financiamento e treinamento, se mostrou extremamente fracassado. Os estados ao tentarem promover a paz geraram guerras. Significa que confiar em estados para que tenham uma boa relação externa é ingenuidade.

O ponto de Carson é que a tentativa de governos em atuar no exterior malogrou. A história cobrou um alto preço por conta da tomada de posição em conflitos externos. É por conta disto que conclui duas coisas: (1) não se deve confiar na narrativa oficial sobre as ameaças externas e (2) “há uma boa chance de que todos os problemas no exterior sejam repercussões das ações do próprio estado”.

Dizer que há uma boa chance de que todos os problemas externos sejam causados pelo estado não é dizer que um mundo sem estado não possui guerras. Isto seria uma negação do antecedente, o que evidentemente Carson não fez.

Mas e se não houvesse estados na região como será que as coisas funcionariam? No texto Israel e Palestina: uma guerra estatal, Markus Bergström mostra que muito além de se perguntar quem tem legitimidade de controlar os territórios reivindicados o problema começa justamente pela existência de estados conclamando para si territórios.

As soluções existentes, estados de Israel e Palestina coexistindo e acordados sobre os territórios ou a fusão num só estado, não resolveriam os conflitos. Uma terceira posição seria a abolição de ambos os estados. Não haveria mais o estado israelense e um dos fatores mais agregadores e pacificadores, o comércio, conseguiria evitar conflitos grandes e custosos. (não vou repetir tudo o que Bergström colocou em seu artigo, o bom leitor o lerá.)

Antes de terminar, dizer que sem estados não haveria as guerras estatais não é afirmar que a natureza humana é boa. É a maldade humana nas mãos de líderes com incentivos que geram grandes guerras. O ser humano entra em conflito com outros o tempo todo. Numa sociedade sem estado, a segurança funcionaria bem diferente e um ótimo começo é ler o livro Teoria do Caos do Bob Murphy.

Em tempo, o erro de Kevin Carson não é apontar que os conflitos sejam de responsabilidade das autoridades israelenses e palestinas. Sua teoria econômica e seus pressupostos marxistas são problemas bem mais graves. Ainda bem que ele não representa o libertarianismo.

 

Notas:

1Filipe Celeti. Anarcocomunismo, socialismo libertário e libertarianismo de esquerda: conceitos e diferenças. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1653

2Filipe Celeti. Uma defesa do desfusionismo, ou uma aula para Filipe Altamir. Disponível em: http://www.institutoliberal.org.br/blog/uma-defesa-desfusionismo-ou-uma-aula-para-filipe-altamir/

A sabedoria na greve do transporte coletivo

Quando lemos sobre as greves nos deparamos sempre com a mesma temática. Disserta-se sobre política, trânsito, política, direito, política, ética, política, urbanismo, política, transporte e política. Mas pouco é percebido acerca do modo como os homens vivem. Perde-se oportunidades valiosas em entender um pouco mais sobre como pensamos e agimos. Há um lado bom na greve. Poucos conseguem ver. Para entender como ela proporciona o exercício do cérebro, temos de entender o cotidiano numa grande cidade.

A rotina numa grande cidade é marcada pelo compromisso e pelo comprometimento. Há horário para tudo. Existe uma agenda a ser concretizada. Os estudos, o trabalho, o almoço, a academia, o lazer e as compras são todos adequados à nossa maneira de estruturar nossa vida ordinária. Numa cidade complexa há horários diversos. São infinitos os arranjos.

Entretanto, os arranjos pessoais dependem de condições externas aos esquemas e anseios internos de cada indivíduo. É por este motivo que uma greve, como a do transporte coletivo, torna a vida de praticamente a totalidade dos indivíduos um caos.

A greve, porém, tem um lado bom. A greve nos força a pensar. A greve nos retira do cotidiano. Do estancamento da rotina. Que beleza maior há do que a possibilidade de inventar o novo? De remodelar-se?

As reclamações sobre o trânsito, sobre ter de mudar o caminho para onde quer que se esteja indo, estão permeadas por uma vontade de não mudança. Deseja-se que o universo seja sempre o mesmo, que tudo esteja sempre no mesmo lugar. A realidade não é assim. Quando se contempla o mundo ao redor percebe-se que a todo instante faz-se necessário alterar os planos.

O homem tem a necessidade de organizar o mundo, que por sua vez é caótico. Não entender esta caoticidade faz com que o indivíduo caia em alguns extremos. Em primeiro lugar não há de se relativizar tudo por conta da dinâmica existente. Em segundo lugar, a insistência no controle leva necessariamente ao sentimento de impotência em poder controlar tudo e todos. É este desejo de universo controlado que mais se sobressai quando vemos o horror estampado na face daqueles que ficam desorientados diante de uma situação nova.

Quando uma pessoa amada morre, termina o amor, não se passa na entrevista, na prova ou no exame, o que fazer? É preciso recalcular a rota. Às vezes voltar e seguir outro rumo. Outras vezes basta fazer uma conversão à direita e seguir para o mesmo alvo por outro caminho. Quando uma ponte cai você procura outra ponte, toma um barco, vai a nado ou simplesmente não atravessa. É o mesmo dilema da pedra no caminho, tão popular e banalizado, mas pouco compreendido em sua essência.

A greve dos transportes coletivos é sábia. Mostra o quão estamos viciados em nossos planos e em nos adequar aos planos de terceiros. Mostra ao trabalhador que ele pode não ir trabalhar quando outros fatores o impedirem. Mostra ao patrão que ele não pode contar com todos os funcionários sempre. Mostra a ambos a necessidade de conhecer rotas alternativas.

A greve nos transportes é sábia. Escancara a quem quiser ver o modo como estruturamos a nossa vida. Além disso, mostra exatamente como é a condição de viventes. Mostra que não há segurança nos planos. Evidencia que a condição humana é a de esgueirar-se em meio as tempestuosas adversidades.

Por conta disto tudo, pode-se amar a greve. Ame a greve! Ame quando a vida te forçar a se reinventar. Contemple, mas não a inércia da pacata existência que te retira a possibilidade de escolher, errar, acertar, mudar, viver.

 

 

Escrito para o blog Ad Hominem.

O melhor começo de livro

Não é inteligente julgar um livro pela capa, mas não é desonesto aquele que julga uma obra pelo primeiro parágrafo. Uma boa história começa boa. O bom texto te prende, te fascina, te estimula e te alimenta com uma sensação de necessidade de devorar cada pronome, verbo, artigo, advérbio, adjetivo, conjunção etc. Não é à toa que Platão utiliza a metáfora do começo de uma obra para falar da importância de pensar a educação. “O começo é a metade de toda obra” (VI 753e), afirma o personagem “Ateniense” em As leis.

São inúmeros os bons livros que começam bem. Lembro do Morgenstern me apresentando Arquipélago gulag, com a história deles comendo uma salamandra ancestral congelada na Sibéria. Lembro da primeira folheada no clássico Lavoura arcaica e de meu encantamento ao ler os contos sartreanos em O muro. Não poderia esquecer do mestre Machado, encantando antes mesmo das Memórias póstumas começarem, ao dedicar o livro ao verme que roeu o seu cadáver.

Apesar dos brilhantes começos, há um livro, não literário, mas acadêmico, que conseguiu o primor de dissecar e apontar o modo como a sociedade tem vivido. Publicado em 1971, Sociedade sem escolas, de Ivan Illich, transcende o debate acerca da educação. O parágrafo com o qual inicia o primeiro capítulo nos permite discutir até a exaustão, mas pretendo não te cansar, caro leitor.

Illich escreve:

Muitos estudantes, especialmente os mais pobres, percebem intuitivamente o que a escola faz por eles. Ela os escolariza para confundir processo com substância. Alcançado isto, uma nova lógica entra em jogo: quanto mais longa a escolaridade, melhores os resultados; ou, então, a graduação leva ao sucesso. O aluno é, desse modo, «escolarizado» a confundir ensino com aprendizagem, obtenção de graus com educação, diploma com competência, fluência no falar com capacidade de dizer algo novo. Sua imaginação é «escolarizada» a aceitar serviço em vez de valor. Identifica erroneamente cuidar da saúde com tratamento médico, melhoria da vida comunitária com assistência social, segurança com proteção policial, segurança nacional com aparato militar, trabalho produtivo com concorrência desleal. Saúde, aprendizagem, dignidade, independência e faculdade criativa são definidas como sendo um pouquinho mais que o produto das instituições que dizem servir a estes fins; e sua promoção está em conceder maiores recursos para a administração de hospitais, escolas e outras instituições semelhantes. (p.16)

Ao dizer que muitos estudantes percebem o que a escola faz por eles, de forma intuitiva, Illich está dizendo que, mesmo sem saber ou entender, as pessoas percebem que na verdade a escola não serve pra nada. Após passar mais de 10 anos numa instituição de ensino, muito pouco do que ali foi dito, pensado ou debatido se relacionará com a vida. O meu medo é que a escolarização tem tido tanto êxito, que a quantidade de pessoas que percebem tem diminuído drasticamente. Os alunos formam-se institucionalizados e, quase robôs, pouco fazem ou são capazes de fazer com aquilo que foi programado e registrado em suas mentes.

O que a escola faz? Confunde processo com substância. Faz com que as pessoas confundam anos de estudo com resultados, ter se formado com sucesso. Não demora muito para o pobre perceber que comprou uma ideologia furada. Foi bombardeado com slogans que afirmavam que passar mais anos estudando lhe dá mais chance, e depois percebe que muitas vezes a conclusão de um curso não resulta na mágica entrada para o mercado de trabalho. Percebe também que seus colegas com habilidades esportivas e persistência, outros que cultuaram o próprio corpo, e aqueles que se dedicaram a fazer ruídos com letras sobre gastar dinheiro e dormir com muitas mulheres, “deram” muito mais certo do que os que estudaram com dedicação. Pode perceber também que o culto aos anos de formação impede os anos de experiência. Comprou gato por lebre, ao viver debaixo da institucionalização da educação.

Adentrando o mundo da educação, a confusão entre processo e substância leva a entender o ensino como aprendizagem. O processo do ensino não é o fruto de um ensino bem realizado. Estar presente num ambiente em que existe ensino, não resulta em aprendizagem. Entretanto, vivemos sob o mantra do discurso metodológico confundido com resultados de aprendizagem – quando esta já não foi descartada totalmente em nome do processo oco.

Confundir a obtenção de graus com educação é o que faz a nossa sociedade medir seus índices e multiplicar estatísticas sobre a população escolarizada e o tempo da escolarização. “Veja como estamos mais educados! Passamos de uma média de 5 anos para 8 anos de educação.” Todo tipo de artificio nefasto é utilizado para melhorar os dados que dizem apenas que as pessoas passam mais tempo inútil numa construção arquitetônica denominada escola. A aprendizagem e a educação estão muito distantes disto. Illich mostra ao longo de seu texto como este pensamento se perpetua para angariar mais fundos para esta instituição responsável pela “educação”.

Nesta sociedade confusa, o que mais se multiplica é a inexistência de competentes à medida em que mais pessoas tornam-se certificadas. Muitos querem ter um papel, poucos querem ser, viver e saber. A cultura do diploma é a manifestação da grave doença burocrática que visa impedir que as pessoas sejam o que desejam se não estiverem dentro de critérios puramente arbitrários.

Por último, a cegueira institucionalizada cria um mundo de palpiteiros que, dominando minimamente a língua, pensam-se capazes de dizer algo novo acerca da realidade. A aprendizagem, a educação e a competência não importam, pois o que vale é o processo.

A imaginação também é escolarizada. Lembro de Georges Didi-Huberman falando sobre a imaginação rasgada (déchirée) de nosso tempo, nos impedindo de ver, interpretar o que vemos e de ir para além do que enxergamos. Pode ser este pano de fundo estético o responsável pela aceitação de serviço em troca de valor. Não há criadores de valor no universo de repetidores de ações, incapazes de refletirem sobre o que realizam.

Para além da educação, temos a institucionalização de tudo. Não há mais saúde fora dos sistemas. Os médicos tornaram-se os sacerdotes e feiticeiros, responsáveis pela verdade e pelos encantamentos de vida e de morte. É preciso sempre ter uma instituição para cuidar daquilo que pertence ao indivíduo. Para a segurança temos a polícia, para a defesa temos o exército, para a melhoria de condições de vida temos os programas de assistência social, para a justiça temos os tribunais burocráticos, para a validação de contratos temos os cartórios. Nada escapa da institucionalização. Para viver com quem se ama, para vender um produto e para consumir plantas alucinógenas invoca-se uma instituição que será responsável por aquilo que o indivíduo poderia realizar sem autorização e sem invocar tal autorização. Mas esta é a condição da sociedade escolarizada.

O término do parágrafo de Illich não poderia ser diferente. Quando “saúde, aprendizagem, dignidade, independência e faculdade criativa” são vistas como resultados dessas instituições que dizem ser as únicas responsáveis por tal substância, temos obviamente a demanda infinita de recursos para fazer cumprir tais resultados. É a partir deste mito que escolas, hospitais, tribunais, ONGs, ordens profissionais, sindicatos e legisladores retiram a legitimidade que inventaram para si mesmos como os verdadeiros provedores daquilo que, sem eles, as próprias pessoas poderiam conseguir.

A institucionalização da vida é total. Vivemos na época de delegar aos outros a responsabilidade que deveria nos ser própria. Uma época na qual

o medicar-se a si próprio é considerado irresponsabilidade; o aprender por si próprio é olhado com desconfiança; a organização comunitária, quando não é financiada por aqueles que estão no poder, é tida como forma de agressão ou subversão. A confiança no tratamento institucional torna suspeita toda e qualquer realização independente. […] Em toda parte, não apenas a educação, mas a sociedade como um todo precisa ser «desescolarizada». (p.17)

Ivan Illich iniciou seu livro de maneira primorosa. Que este autor que vos escreve tenha conseguido, mutatis mutandis, algo parecido em sua estréia neste blog.

Referências:

ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. Petrópolis: Vozes, 1985.

 

Escrito para a minha estreia no blog Ad Hominem.

Valesca Filósofa

 

Em meio a tantos debates acerca do ensino de filosofia é preciso dizer que há mais gente enganada ou enganando do que o professor que colocou um trecho da música de Valesca Popozuda em sua avaliação. Surgiram grupos de pessoas, em ambos os lados do debate, que simplesmente ignoraram pontos importantes.

O ponto inicial é dizer que o professor errou. No que errou? Errou, não em colocar a música da Valesca em sua prova, mas em fazer uma questão tão superficial. Uma pergunta na qual o aluno necessita apenas conhecer um trecho de uma música de sucesso não permite a este aluno uma reflexão crítica da realidade, que é a proposta de todo ensino de filosofia levado a sério.

As justificativas em defesa do professor se dividem em: (1) foi uma ironia e (2) houve um debate em aula anterior a respeito do tema da moral. Se a questão foi pensada para ser uma ironia, então é preciso dizer a este professor que a tentativa de ironia dele malogrou. Se a questão se justifica por conta da possibilidade de abertura de um debate, faz-se necessário dizer que toda a possibilidade de leitura consciente da música e da realidade foram eliminadas por conta da pobreza da pergunta feita.

Por outro lado, criticou-se o professor pelo fato de utilizar-se de uma música popular – considerada de gosto duvidoso por aqueles que ainda imaginam uma escala hierárquica nas artes. Ora, se a filosofia não nos permite ler uma manifestação cultural, seu local, seu sentido, seus limites e sua abrangência, então a filosofia é inútil. Além disto, se uma manifestação cultural não nos permite indagar sobre a realidade que a cerca, significa que nossas possibilidades reflexivas estão enferrujadas.

O problema de ensino não está nos materiais utilizados ou numa valorização da cultura popular sobre a cultura erudita, – embora este seja o problema fundamental da pedagogia freireana – mas na qualidade da formação de nossos professores. O planejamento de aula, o estabelecimento de metas e objetivos, a metodologia e a avaliação são algumas das competências que foram deixadas de lado para formar professores “críticos”. Numa escolarização aleijada há apenas a realização de uma prática incompleta.

Aos especialistas que milagrosamente apareceram para comentar o ocorrido, Rothbard dizia que a economia é uma ciência complicada e por este motivo é melhor que os ignorantes em economia não digam besteiras sobre ela. O mesmo pode-se dizer da pedagogia. Há muitos palpites, mas muito pouco de compreensão da dimensão educacional.